Livro do MAQ

Data: l5 de novembro de 2000
Assunto: Livro do MAQ
Contexto: Vários participantes da Vital têm livros publicados, um dos quais é Marco Antônio de Queiroz (MAQ, que ficou cego devido a uma diabete e construiu o site Bengala Legal.

Flavia e Eduardo

Já ouvi essa sugestão umas mil vezes e, sempre que isso ocorre, me bate um bloqueio. Talvez seja resistência em me expor, mas ultimamente tenho achado que o motivo desse bloqueio é que não alcancei, ao menos ainda, os meus objetivos de vida e assim me sinto um tanto fracassado, embora a imagem que os outros têm de mim seja a oposta. Em todo caso, já fiz algo parecido com escrever um livro – montei um site!

[C] MAQ,

[C] Para nós seu livro é incriticável, pois o lemos com os olhos do coração. Recebemos agora, com a vinda de Ana Emília o livro do Luiz Maia, e as experiências vividas só faz engrandecer o nosso dia a dia.Ronaldo, escreve o seu, vai!

[C] Flavia Maria e Eduardo Guimaraens

Data: 18 de novembro de 2000

Assunto: Livro do MAQ

MAQ

Não creio que o que falei sobre escrever um livro possa ser considerado orgulho, afinal usei a palavra “fracasso”. Há duas semanas, me convidaram para ajudar a dar uma aula num curso que ensina profissionais de diversas áreas – pedagogos, psicólogos, assistentes sociais, etc – a lidar com deficientes; na semana passada, estive num seminário também a convite e até devo ser pago por isso – mas ainda não vi a cor do dinheiro; e nesse evento já fui convidado para um fórum na UFPE. Todas essas solicitações e a reação do público me fizeram sentir como se tivesse criado, produzido algo, embora com pouco ou nenhum retorno financeiro – talvez isso atenue a sensação de improdutividade que é um dos motivos de me sentir “fracassado”. Na verdade, não sei o motivo do bloqueio de escrever um livro e pode ser que seja resistência a me expor: como é quase sempre outra pessoa que me banha e bota no banheiro, sinto minha privacidade e intimidade bastante restringidas e até violadas, e não gosto de nada que acentue essa situação. A possível censura da família também pesa.

[C] Ronaldo, por vezes estar vivo já é um bom exemplo de vida e luta. Sinto-me assim porque sei o que já sofri orgânica e emocionalmente. Não seja orgulhoso mais do que já é, você ajudaria muitas pessoas além do que já faz em sua página da web. Ninguém quer saber de super-heróis que não possam ensinar com seu próprio sofrimento, superações e crescimento. Não conheço seus limites por inteiro, não sei de seu dia a dia e a que perda de vivências sua deficiência lhe induz, mas você em si já é alguém grande demais para ser conhecido por dentro e por deficiência. Seus agora quase freqüentes e-mails são para mim um privilégio, um livro seria demais! Isso, porém, não depende só da vontade, mas de tantos fatores objetivos e subjetivos conjugados que seria quase independentes de nossa vontade. Abraços de seu fã quase oculto… MAQ.