Data: 10 de Abril de 2000
Assunto: O CREDO DA CIÊNCIA
Contexto: No início da Vital, houve muita gente que afirmou que a vida é simples e que o amor e Deus eram a solução para tudo e fui o único a discordar, o que causou uma grande discussão. Meses depois, colocaram na lista o texto “O Credo da Ciência”, fiquei quieto mas um dos criadores da Vital, Sérgio Milani, inventou de me provocar e houve outra polêmica.
[C] Anahi
[C] Sabe o que eu achei mais estranho ? o Ronaldo não falou nada … AINDA !! (ichi, olha eu pondo lenha na fogueira !!
[C] Milani
[C] O CREDO DA CIÊNCIA
[C] Meu caro amigo. Recebi tuas felicitações – muito obrigado. Atingi o “vértice da pirâmide” – dizes. Enchi de mil conhecimentos o espírito – é verdade. Cinge-me a fronte o laurel de doutor – sou acadêmico. Entretanto não me iludo… Quase todo o humano saber – é crer…Nossa ciência – é fé. Creio no testemunho dos historiadores – porque não presenciei o que referem. Creio na palavra dos químicos e físicos – porque admito que não se tenham enganado nem me queira enganar. Creio na autoridade dos matemáticos e astrônomos – porque não sei medir uma só das distâncias e trajetórias siderais. Tenho de crer em quase todas as teses e hipóteses da ciência – porque ultrapassam os horizontes da minha capacidade de compreensão. Creio até nas coisas mais cotidianas – na matéria e na força que me circundam… Creio em moléculas e em átomos, em elétrons e em prótons – que nunca vi… Creio nas emanações do rádium e nas partículas de hélium – enigmas ultramicroscópicos. Creio no magnetismo e na eletricidade – esses mistérios de cada dia. Creio na gravitação dos corpos sidéreos – cuja natureza ignoro. Creio no princípio vital da planta e do animal – que ninguém sabe definir. Creio na própria alma – esse mistério dentro do Eu.
[C] Não te admires, meu amigo, de que eu, formado em ciências naturais, creia piamente em tudo isto… Admira-te antes de que haja quem afirme só admitir o que compreende – depois de tantos atos de fé cotidiana. O que me espanta é que homens que vivem de atos de crença descreiam de Deus – “por motivos científicos”. Homem! Tu, que não compreendes o artefato – pretendes compreender o Artífice? Que Deus seria esse que em tua inteligência coubesse? Um mar que coubesse numa concha de molusco – ainda seria mar? Um Universo encerrado num dedal – que nome mereceria? O infinito circunscrito pelo finito – seria infinito? Convence-te, ó homem, desta verdade só há duas categorias de seres que estão dispensados de crer os da meia-noite – e os do meio-dia. As trevas noturnas do irracional – e a luz meridiana da Divindade…O insciente – e o onisciente… Aquele por incapacidade absoluta – este por absoluta perfeição… O que oscila entre a treva total do insciente e a luz integral do onisciente – deve crer. Deve crer, porque a fé se move nesse mundo crepuscular, eqüidistante do vácuo e da plenitude, da meia noite e do meio dia… Humberto Rohden Milani
Todo mundo acredita que, se chutar uma parede, vai quebrar o pé ou os dedos deste. Aparentemente, esta é uma questão de fé porque ninguém sai por aí chutando paredes, mas se uma pessoa estiver disposta a correr o risco de se machucar, tiver dinheiro para pagar um médico depois e topar a possibilidade de passar dias com o pé engessado, pode testar essa crença. Do mesmo modo, ter “fé” na ciência é questão de economizar recursos, tempo e riscos, pois se alguém dispor dessas coisas e duvidar de alguma teoria científica, pode tentar refutá-la. Por outro lado, mesmo com todos recursos, tempo e riscos do mundo, não há maneira de se submeter a fé em Deus a um teste, ao menos até onde sei.
Data: 12 de abril de 2000
Assunto: O CREDO DA CIÊNCIA
Anahi
[C] O que eu não concordo em ti é o teu ceticismo, você só vê com os olhos da razão, do cientificismo e quase nunca vai com os olhos do coração.
Ser racional e cético não me impede de ter sentimentos e emoções, como todo ser humano, e IMHO não existe oposição inevitável entre sentimentos e intuição de um lado, e razão de outro – ao contrário, esta serve para resolver os dilemas e sofrimentos que o coração muitas vezes nos impõem. O que impede, isto sim, é de trocar as bolas, como o texto “Credo da Ciência” e você fazem.
[C] Perante Deus não seria diferente do Credo da Ciência não, porque, em verdade, somos submetidos a testes, certamente de uma maneira diferente tal qual foge de todo o convencionalismo cientifico a que estamos acostumados.
Dizer que somos submetidos a testes é de um convencionalismo religioso exemplar, a que estamos muito mais acostumado do que com a ciência. Além do mais, esses supostos testes são experiências pessoais, irreprodutíveis, de comunicação difícil e passíveis de várias interpretações, inclusive a de que não houve teste nenhum – em suma, são totalmente diferentes dos testes a que são submetidas as teorias científicas.
[C] O padrão nem sempre é a regra. O fato aqui é que de qualquer natureza divina, não se pode provar CONCRETAMENTE falando segundo regras, axiomas e hipóteses da Ciência.
Mas isso é exatamente o que eu disse e você acabou de invalidar aquele texto. Aliás, como você sabe o critério de cientificidade mais usado é o de Karl Popper, segundo o qual uma teoria científica deve poder ser refutada, isto é, colocada em dúvida e tal dúvida é permanente, pois não existem fontes infalíveis de conhecimento – ora, o autor daquele texto desconhecia tal critério, o que é compreensível pois ele deve ter escrito no início do século; o estranho é que você tenha ido na onda dele – este é um bom exemplo dos enganos que o coração nos faz cometer!
[C] Diga-me uma coisa – você ama sua mãe? sua irmã? seu pai? seu melhor amigo? aquela mulher a quem desejas? Então, PROVE!!!
Essas perguntas são falaciosas porque fogem da questão que estamos discutindo, que não é se há realidades perceptíveis que escapam total ou parcialmente à compreensão da ciência, e sim se acreditar nas teorias desta equivale a crer em Deus. Por outro lado, teorias científicas nunca são provadas, apenas escapam provisoriamente de serem refutadas pois não existem fontes infalíveis de conhecimento. Por fim, amor e outros sentimentos se traduzem em comportamentos, que podem ser cientificamente observados, e talvez em breve se possa observar diretamente os processos neurológicos responsáveis por eles – ou seja, o amor não está tão fora do alcance da ciência quanto você supõe. Será que você pode conceber algum experimento para decidir se Deus existe ou não?
Para você não continuar trocando as bolas, acreditar nas teorias científicas é questão de poupar dinheiro, tempo e riscos, e crer em Deus, de fé.